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Artigo

Gestalterapia / Fenomenologia / Existencialismo

Loeci Maria Pagano Galli
Psicóloga – Gestalt-terapeuta
CRP – 07/00404

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Eu sempre aprendo com meus clientes, mais talvez que eles podem aprender comigo. Sempre há pais para ser descoberto do que psicólogos restritos dentro de um paradigma do comportamento psicológico.

A prática de entender no consultório é um tipo de enriquecimento interior que valorizo e não renuncio.
A Gestalt-terapia fundamenta-se no existencialismo porque está próximo da fenomenologia que compreende a maneira singular como o ser humano pode se experimentar entre os outros.
Pode ser considerado “existencial” tudo que diz respeito sobre a forma como o homem experimenta sua existência, portanto suas escolhas ou decisões só podem ser tomadas pela pessoa, sendo ela responsável pelo seu trajeto de vida. A gestalt-terapia não busca inserir o ser humano num modelo pronto de saúde.
Crio constantemente a mim mesma pela ação e isso é tão fundamental para a minha condição humana, partindo de onde você está agora você escolhe e as escolhas também escolhem quem você será.
Porém não podemos desvincular o ser humano como parte da sociedade, ele é uma soma de processos vividos e experienciados, valores que foram aprendidos.
Descobrindo a si mesmo, explorando suas sensações interiores, não precisa ter um comportamento adaptado ou destrutivo de como “deveria” ser ou o que os outros lhe dizem de como deve ser, perdendo sua capacidade de entender-se com sua história de vida e perdendo seu livre-arbítrio.
Quando nascemos somos indefesos, não temos controle sobre nossa conduta, sobre o comportamento dos outros, começamos a influenciar, bem como a ser influenciados, toda essa experiência requer comunicação. Todos os valores condicionantes culturais, padrões de conduta impostos, qualquer pessoa pode escolher seguir alguns padrões ou não, indo ao encontro da sua intuição, buscando clareza destes
valores e assim acreditando neles independente de sua história pessoal, respeitando seus valores para cada momento presente. O futuro é o hoje enquanto possibilidade.
Se alguém pensa que respeitar-se é dizer “sou assim e quem quiser conviver comigo, terá que me aceitar como eu sou” (começa que eu não ‘sou’ estou sendo a todo o momento pelas escolhas), esta postura está sendo reflexo de um egoísmo habitado por milhões de pessoas na moderna sociedade capitalista, exclusivista e mercenária.
A responsabilidade é a consciência de sermos um ser “com”, desta forma a importância de aprender a viver consigo mesmo é aceitar o nosso compromisso social, de convivermos pacífica e ativamente nos respeitando e respeitando quem habita conosco neste planeta.
A diferença desta terapia é que você deixa de ver o outro como um ser doente e passa a contatá-lo como um igual, ou melhor como um sábio que foi obrigado a esquecer sua sabedoria e fez isso para se adaptar ao meio e ser aceito.
A terapia busca auxiliar a pessoa a sair do lugar passivo de vítima do mundo, é uma terapia de atualização de seu potencial humano.

Na enfermidade psicológica criam-se dependências de fármacos de grande rentabilidade para empresas, mascarando o problema sem resolvê-lo. Você ficando dependente é mais útil para a sociedade do que para você mesmo.
Para Alice Muller a criança não sendo respeitada em suas necessidades cria uma confusão mental para decidir na vida adulta. Aprendeu a manipular o meio mostram-se impotentes, estúpidas, aduladoras, fazendo perguntas.
Todos somos fragmentos, não só do homem em geral, mas também de nós mesmos.
Faz parte da relação construtiva a possibilidade de eu dizer ao outro o que estou sentindo em relação a ela. Comunicando meus sentimentos, estabeleço uma relação autêntica, no entanto se reprimo minhas emoções com medo de ser rejeitado ou mal compreendido, vou acumulando emoções que poderão destruir o relacionamento.
A criança é livre para sentir e expressar o que sente, mas percebe que o adulto nem sempre expressa o que sente ou o que precisa.
Segundo Heidegger, o universo do “a gente” é composto pelo educador, pelas escolas, pelas igrejas, pelos meios de comunicação de massa, pelos núcleos de serviço social, pelos tratamentos psiquiátricos, estes são encarregados “público” onde o educar encontra seu fundamento no inautêntico, exemplo: o direito de morrer em casa hoje ficou impossível, pois foi montada uma estrutura na medicina que dita como se tem que morrer.
Por acreditarmos nesses padrões pré-estabelecidos é que eles se tornam verdades que norteia nosso comportamento. O fenômeno “a gente” me liberta do peso da minha própria existência é fornece o prêmio para minha submissão; “segurança”, tranqüilidade.
Nosso crescimento se deu em uma sociedade de enfermo, culpar outra pessoa pelo próprio desapontamento, colocar culpa na depressão, na sociedade, ser vítima, é o refúgio da pessoa.
Um existencialista que é também um fenomenólogo não aparece regras fáceis para lidar com a condição, mas se consentia em desenvolver a experiência vivida tal como se apresenta.
Descrever fenômenos significa despir-se de distrações, hábitos, ideias feitas, pressupostos e clichês mentais, a fim de dedicar atenção “as coisas mesmas”, devemos olhá-las de olhos bem abertos e capturá-las exatamente como aparecem e não como supostamente seriam ou poderiam ser. É não aplicar energia descritiva à interminável dança da intencionalidade que ocorre em nossa vida. A consciência não tem um “dentro” ela não é senão o fora de si mesmo, e é essa fuga absoluta, essa recusa de ser substância que a constituem como consciência. Toda a consciência é uma consciência de alguma coisa.
Fenomenologia não é a construção do pensamento, mas trabalho de desconstrução dos encobrimentos. A diferença é que você deixa de ver o outro como doente e passa a tratá-lo como igual. É aceitar o outro com suas razões e não querer integrá-lo a força em um modelo prévio de inteligibilidade. Compreender o mundo do “doente” é situar e compreender os momentos que contribuíram para desenvolver aestrutura de sua personalidade. O homem só se angustia porque o mundo o arrasta em sua angústia, isso reflete uma inseparabilidade.
Um sintoma pode ser compreendido como um estilo do ser no mundo, no modo que ele se dá existencialmente. A adaptação do mundo exterior e psicologicamente constitui a interpretação e o ajuste da personalidade do ser humano. A percepção que a pessoa tem de si sempre estará afetando suas atitudes. Se me imagino fracassado, ajo como tal, assim as expectativas de fracasso dão luz aos próprios fracassos.
O que se chama de neurose ou psicose os gestalterapeutas a chamam de ajuste criativo, pois o indivíduo está se protegendo de um possível sofrimento. Perls definia saúde e maturidade psicológica como a capacidade de emergir do apoio e da regulação do ambiente para um auto-apoio. O indivíduo possui potencialidades naturais que possibilitam buscar o equilíbrio do organismo.
Se nos dedicarmos somente ao tratamento dos sintomas, eles podem desaparecer, mas certamente serão substituídos por outros, ter um antidepressivo guardado na carteira é sinal de status, objeto de consumo que não devem ser esquecidos nas despesas do mês.
Hipócrates reconheceu que o homem não era um somatório de órgãos, mas uma unidade viva regulada e harmonizada por cada indivíduo. Para qualquer pessoa manter o seu emocional em equilíbrio, é fundamental que ela se sinta amada e que tenha um papel no mundo que possa dar sentido a sua existência.
Além das relações familiares, outras fontes são geradoras de sofrimento como a pressão no trabalho ou mesmo a exigência de um certo padrão de beleza.
Fugindo de si busca-se conforto da mídia e da publicidade, busca-se a impessoalidade como conforto. Cada qual é o outro e ninguém é si mesmo. Para a fenomenologia é exatamente a aceitação dessa insegurança que permite o conhecimento. Enquanto a metafísica fala de forma lógica do ser, a fenomenologia fala dos modos infindáveis de se ser.
Um sintoma nos informa que está faltando alguma coisa. Antigamente perguntava-se o que está lhe faltando, hoje o que você sente. O conceito de cura em gestalt-terapia se propõe a compreender o ser a partir da concepção fenomenológico-existencial do ser humano. As ciências humanas para serem rigorosas, precisam permanecer inexatas, não se trata de nenhuma falha, mas de seu privilégio.
A angústia arranca o homem da imersão no mundo e da preocupação para voltar a lançar no seu ser-no-mundo mais próprio, ou seja, em vez de cortá-lo da relação com o mundo, o faz experimentar-se como dedicado a ele. O ser-em na casa com o sentido de habitar, adquire a modalidade existêncial do não-em-sua-casa, é uma experiência de estranheza, mas continua a ser uma relação essencial com o mundo. A fuga que caracteriza o estar-caído é a fuga para a familiaridade perante a estranheza do Dasein enquanto lançado ao mundo.
O fenômeno da angústia em sua totalidade é a inseparabilidade dos dois existenciais, que são o estar-lançado é o que Heidegger nos denomina facticidade e existencialidade. Estas duas estruturas são compreendidas como estruturas do cuidado.
O que a angústia torna visível é que a existência é sempre existência de fato e se realiza como preocupação e imersão no mundo, é o momento do estar-caído que caracteriza o ser no mundo impróprio do Dasein, a sua “inautenticidade” o ser em modo próprio “a autenticidade” para o Dasein não consiste em uma pura relação a si que a abstrairia do mundo, mas sim uma outra maneira de ser-no-mundo. O homem se faz para esquecer que é feito, e feito para morte.
Hermes é uma divindade complexa com múltiplos tributos e funções, protetor dos pastores, tem uma relação com o mundo dos homens num mundo por definição “aberto” que está em sua permanente construção. Na hermenêutica contemporânea Hermes é o deus do sentido, põe em comunicação e correlação os diferentes níveis de uma realidade aberta.
A hermenêutica para Heidegger é um compreender que se constitui como totalidade, porque é um compreender no mundo, no mundo que é a própria transcendência. Estamos envolvidos com os objetos do mundo e descrevemos o mundo no qual se dão os objetos.
A fenomenologia hermenêutica descreve o ser humano como ser-no-mundo que desde sempre se compreende no mundo, mas só se compreende no mundo porque já antecipou uma compreensão do ser, compreensão como totalidade; ele chamou de estrutura da circularidade, na medida em que sempre somos mundo, ao mesmo tempo projetamos mundo.
O método fenomenológico trata daquilo que se esconde sobre o logos, que é a singularidade que tenta se expressar no logos, mas que o logos sempre oculta, é o elemento hermenêutico. Na fenomenologia está sempre presente a compreensão enquanto elemento lógico da comunicação, a compreensão do ser para Heidegger nada mais é do que a compreensão do sentido do ser, isto é, a compreensão da totalidade, não mais a de um ser determinado, é a compreensão do ser enquanto compreensão do que
está podendo ser.
O ser humano é compreender, ele só se faz pela compreensão e só se dá pela compreensão. Compreender é o ser existencial do próprio poder-ser do Dasein, de tal modo que este ser se abre e revela seu próprio ser. O Dasein se compreende sempre a partir de suas possibilidades, aquilo que ele sem seu poder-ser, ainda não é, ele o é existencialmente.
Compreender plenamente algo não é pleno, pois lidamos com uma carga histórica que nos limita. Somos limitados por uma história que está atrás de nós. Nossas limitações do compreender nos remete a uma história da qual não conseguimos acompanhar como indivíduos, nem como grupos. Sempre chegamos tarde e só depois somos fatos determinados pela história, pela cultura. Nosso compreender nunca é transparência.
Todo ser-no-mundo é também um “ser-com”, convivemos com os outros num “mundo-com”.
Cada estado de animo o mundo mostra uma luz diferente. Na angustia o mundo se mostra para mim como algo “estranho”.
A entidade impessoal nos rouba a liberdade de pensarmos por nós mesmos. Ela esvazia minha responsabilidade, minha capacidade de responder.
A ciência e a razão não têm a missão de salvar a humanidade, porem tem poderes ambivalentes sobre o desenvolvimento futuro da humanidade.

 

* A palavra Dasein significa literalmente existência, porém Heidegger a usa no sentido exclusivo de existência humana. Heidegger fala em “Dasein” para significar “existência” de modo geral, composta por da(lá, ali) e sei(ser). Assim o termo significa “ser-aqui” ou “ser-aí”. Para ele o ser cotidiano do Dasein está bem aqui: é o ser-no-mundo.

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